Olá galera, nosso parceiro aqui do site: Prof. Renato André Silva. Escreveu esse excelente artigo sobre as diferenças e a importância da modificação dos tipos de treinos para crianças e adolescentes.
É comum encontrarmos crianças aprendendo a pedalar entre os 3 e 4 anos, como também, sendo iniciadas no ciclismo competitivo entre os 5 e 9 anos especialmente na Europa. No Brasil, o BMX, o ciclismo de estrada e a própria utilização recreativa da bicicleta são as três formas que mais atraem as crianças e jovens.
A União Internacional de Ciclismo (UCI) tem encorajado pessoas de todas as idades a pedalar, em especial as crianças. A instituição desenvolve programas de incentivo ao uso da bicicleta em todos os níveis: competição, transporte e lazer. Sendo que as grandes provas do ciclismo mundial recebem bonificações quando além das preocupações relativas à competição profissional a organização divulga os benefícios do ciclismo para a população da cidade e região. Entretanto, o ciclismo competitivo é que recebe a maior atenção.
Há na literatura uma extensa investigação sobre da treinabilidade aeróbia em crianças e jovens, ou seja, a capacidade do organismo em adaptar-se ao treinamento de endurance, pois, é nessa faixa etária que os indivíduos começam a almejar objetivos desportivos de alto rendimento. Para tanto, a transição entre as idades pré e pós-púbere é um período crítico para a intensificação dos programas de treinamento com fins competitivos, visto que, a puberdade é a sucessão de mudanças anatômicas e fisiológicas no início da adolescência que marca a transição entre os estados não-maduro e de completa fertilidade. Este processo caracteriza-se por alterações no tamanho corporal e ação hormonal.
No treinamento de corrida, por exemplo, um estudo de 1997 submeteu crianças pré-púberes a rotinas de 6 treinos semanais durante dezoito meses, onde os aumentos do desempenho aeróbio foram mínimos e não alcançaram os 10% (Yoshizawa et al.,1997). Já no estudo de Baquet et al (2002) foi identificado melhoria de 8,2% sobre o consumo de oxigênio de crianças pré-púberes submetidos a 7 semanas de treinamento de corrida intervalada. Quando meninos e meninas pré-púberes são comparados em relação à capacidade aeróbia, as meninas apresentam melhorias até duas vezes maiores que o meninos para um treinamento com 13 semanas de duração (Mandigout et al., 2001), o que difere dos resultados observados em jovens pós-púberes.
Especificamente no ciclismo infanto-juvenil, o estudo de Maffeis et al. (1994) demonstrou que crianças obesas atingiam menores níveis de carga ao pedalar em cicloergômetro do que as não-obesas. Em um estudo recente, meninas pré-púberes tiveram um pequeno aumento, porém significativo, no consumo máximo de oxigênio e potência anaeróbia quando submetidas a 8 semanas de treinamento em bicicleta estacionária com 2 a 3 sessões semanais (MANUS et al., 2008). Doré et al (2000) demonstraram que a idade e a massa corporal livre de gordura são bons preditores de performance da potência no ciclismo. A amostra do estudo contou com crianças e jovens entre 7,5 e 18 anos e, a partir dos 16 anos foram encontrados os melhores resultados, ou seja, na faixa pós-pubertária.
Vale lembrar que a idade pubertária feminina (≅ entre 10 e 13 anos) é precoce em relação aos meninos (≅ entre 12 e 15 anos), então esse período crítico será antecipado nas meninas (NHANES III). Desta forma, considerar a idade pubertária para intensificação dos treinamentos de ciclismo faz-se necessária, bem como, torná-la uma referência para o momento de diminuição da carga lúdica no uso da bicicleta para o aumento do rigor metodológico e controle das cargas de treino de ciclismo.
O ciclismo infanto-juvenil de competição é dividido por grupos etários tal como para os adultos (Tabela 1). Entretanto, não são todas as crianças e jovens que apresentam equilíbrio entre as idades biológica e cronológica, ou seja, é possível que um indivíduo com idade pós-púbere apresente maturação biológica de um pré-púbere. Assim a avaliação da massa corporal e estatura, diâmetros ósseos e características sexuais são necessárias. Segundo Rowland (2008) a pura estratificação do desempenho de crianças e jovens pela idade sem considerar seu desenvolvimento biológico pode produzir insensatez potencial no treinamento. Tal avaliação é importante também na detecção de talentos esportivos, se considerado que o sucesso esportivo depende muitíssimo do intelecto motor e da predisposição genética para cada desporto (MOSKOTOVA,1997).
Categorias | Faixa etária |
Mirin | 05 a 09 anos |
Infantil | 10 a 12 anos |
Pré-juvenil | 13 a 14 anos |
Juvenil | 15 a 16 anos |
No ciclismo infanto-juvenil brasileiro destaca-se a escola de Ciclismo de Iracemápolis, que desde 1977 tem revelado grandes atletas para as melhores equipes brasileiras. A equipe é coordenada por Renato Buck e os atletas possuem um importante monitoramento fisiológico realizado pelo Grupo de Estudo e Pesquisa em Ciência do Esporte do Laboratório de Fisiologia do Exercício das Faculdades Integradas Einstein. O trabalho realizado por esta equipe é um exemplo de como o treinamento levado a sério pode trazer bons frutos esportivos, mas sem desconsiderar aspectos básicos de saúde e individualidade biológica.
Referências
- NHANES III – Third National Health and Nutrition Examination Survey.
- Mandigout et al. Effect of gender is response to na aerobic trainning programme in prepuberal children. Acta Paediatr. 90:9-15, 2001.
- Yoshizawa et al. Effects of an 18-month endurance run trainning program on maximal aerobic power in 4- to 6-year-old girls. Paediatr. Exerc. Sci. 9:33-43, 1997.
- Rowland, TW. Fisiologia do Exercício na Criança. 2ª ed. Barueri,SP : Manole, 295p. 2008.
- Moskotova, AK. Fisiologia – seleção de talentos e prognóstico das capacidades motoras. Jundiaí,SP : Ápice, 68p, 1997.
- Baquet, G et al. Effects of High Intensity Intermittent Training on Peak V˙O2 in Prepubertal Children. Int J Sports Med 23(6): 439-444, 2000.
- Maffeis, C et al. Maximal aerobic power during running and cycling in obese and non-obese children. Acta Pædiatr 83:113–16,1994.
- Manus, AM. Effect of training on the aerobic power and anaerobic performance of prepubertal girls. Acta Pædiatrica 86(5): 456-459, 2008.
- Doré, E et al. Dimensional Changes Cannot Account For All Differences in Short-Term Cycling Power During Growth. Int J Sports Med 21(5): 360-365,2000.