Olá pessoal, a Cannondale Brasil nos deu a oportunidade de oferecer uma exclusiva entrevista com a lenda do MTB Tinker Juarez, que veio ao Brasil para disputar (e vencer o MTB 12h pela 4ª vez) aos 53 anos de idade.
As perguntas elaboradas pelos leitores do PraQuemPedala e respondidas por Tinker. Vejam aqui as perguntas e as respostas.
Giancarlo Alves Faria: Tinker, depois de tanto tempo em competições, de onde você tira tanta garra e disposição pra se manter vitorioso no ciclismo de MTB ?? Tenho 50 anos e fiquei seu fã vendo seus vídeos. Abração e muito sucesso pra você! (Giancarlo Alves Faria / Equipe BOB PAI & BOB FILHO MTB / SJC – SP)
A melhor resposta para essa questão é: Sou patrocinado pela Cannondale desde 1994 e sou um atleta profissional, este é o meu trabalho. Vivo na California e toda manhã as pessoas acordam e vão trabalhar e o meu trabalho é pedalar. Minha motivação é ter isso como meu trabalho, sou pago para isso e me sinto muito sortudo de que para ganhar a vida preciso apenas pedalar e me exercitar. Meu trabalho é estar em forma e pedalar, acredito que seja um ótimo emprego.
Gabriel Silva: Bem, aqui vai a minha pergunta: o que pensa acerca da revolução que houve nos últimos anos no MTB e que vantagens pode essa revolução trazer para o nosso desporto?
Todo ano temos algo novo nas bikes, eu gosto dos novos modelos porque estão cada vez mais leves. Temos inúmeras novidades, o carbono, a corrente a suspensão Lefty da Cannondale. É uma loucura ver o quanto elas evoluíram, acho ótimo isso, pois me sinto cada ano mais forte já que as bikes estão mais leves. As bikes estão mais caras, mas pode ter certeza de que valem cada centavo investido, afinal elas são super resistentes, fortes e leves.
Gustavo Bicygo: Oi Tinker, é verdade que você costuma utilizar peças “old school” que você se adaptou bem no decorrer da sua carreira, mesmo sendo modelos antigos, descontinuados, como por exemplo aqueles pedais look SPD vermelhos da década de 90? Em caso positivo teria outros exemplos dessa “mania”?
Sou um dos poucos ciclistas que ainda usa o SPD dos anos 90. Quando algo funciona para mim eu não gosto de trocar, por isso sigo usando os mesmos pedais. É um tipo de pedal que eles chamam de Quattro, feito por Crank Brothers, vem sendo produzido há uns 3 anos; Pra mim é difícil mudar, gosto de manter os pedais, as sapatilhas e a bike. Também mantenho o selim que usava antigamente, me adaptei muito bem com eles e todo ano uso o mesmo modelo. É ótimo que meu patrocinador é flexível e aceita que eu use o que funciona para mim e deixam eu escolher.
Gustavo Bedran: Quem está evoluindo mais rápido, atletas ou equipamento?
Eu não tenho total convicção, mas acho que os ciclistas estão evoluindo mais rápidos do que os equipamentos. Mas é algo continuo e que cresce dos dois lados.
Leandro Correa: Minha pergunta é: o que é preciso para se tornar um campeão?
Trabalho duro e dedicação. Você precisa ter sua mente focada no que você amaná e trabalhar muito para alcançar os objetivos. Eu vivo bicicleta, saio para pedalar todos os dias. Um dia vou para estrada, no outro para a montanha, um dia puxado, um de recuperação, mas sempre treinando. Você precisa estar no envolvido com o que ama e dar tudo de si em busca dos objetivos.
Ary Marcos: O que acha dessa evolução constante do MTB, principalmente nas bikes, que eram todas aro 26 e agora são aro 29, algumas também aro 27.5. Qual sua opinião sobre isso, qual é a sua bike atualmente e por quê?
Eu sempre soube que o tamanho da pessoa é relacionado com o tamanho do aro ideal para usar. Sempre fui adepto do aro 26, mas dois anos atrás a Cannondale parou de trabalhar com o 26 então me rendi ao 29. Agora que me adaptei, sinto que o aro 29 é muito mais ágil. É mais fácil para controlar, ajuda nas partes mais técnicas e dá muita segurança nas descidas. Hoje acredito que não é o tamanho da pessoal que define, mas sim o fato de estar confortável na bike. Me tornei um fã do aro 29 depois dessa minha experiência nos últimos anos.
Daniel Hamada: Qual foi a prova mais dura que você se lembra?
A corrida mais difícil para mim foi a Cross of America. É uma prova de estrada que cruza os Estados Unidos, de Oeste até o Leste. Foram por volta de 10 dias e consegui ficar na terceira colocação, mas não pretendo fazer isso novamente. Foi a coisa mais maluca que já fiz na minha vida.
Leonardo Dall’Igna: Você passou toda a sua carreira na mesma equipe. Pode nos contar o que significa para você ser um atleta Cannondale?
É um sonho, estar no melhor time que eu poderia estar e por tanto tempo. Quando você é criança, tem como objetivo usar as melhores bicicletas do mundo e em 1994, quando assinei com a Cannondale foi um sonho se tornando realidade. Todo atleta quer fazer parte de um time e Cannondale é sempre a primeira escolha de todos nós. Eu fui o primeiro atleta da equipe e sigo com eles até hoje, espero que dure para sempre, pois nada melhor do que estar com o time Cannondale.
Gustavo Bicygo: Oi, Tinker! Pode comentar sobre todas as grandes lendas do MTB com quem teve o privilégio de competir, como Ned Overend, John Tomac, Dave Wiens e outros? Com quais desses ciclistas você teve os melhores duelos? Pode também comentar suas observações sobre as lendas femininas que também teve o privilégio de acompanhar, como Juli Furtado, Alison Sydor, Ruthie Matthes e etc?
Correndo contra os grandes nomes do esporte foi de extrema importância para minha carreira ser do nível que é hoje em dia. Hoje não encontro mais com eles nas pistas, alguns seguem envolvidos com ciclismo, treinadores ou apenas aposentados. Enfim, competir com eles por tanto tempo fez com que minha carreira chegasse nesse patamar. Quanto as mulheres, elas eram incríveis e me davam motivação para estar no mais alto nível. Quando eu as via com ótimos resultados também queria estar rendendo o melhor possível.
Hudson Luiz da Silva: Você já pensou alguma vez em desistir do mountain bike? Qual foram suas maiores dificuldades para se manter no esporte?
Eu sou muito sortudo de nunca ter precisado tomar essa decisão. Eu acredito que quando a pessoa é dedicada ao esporte, apenas pensa em oferecer tudo que pode ao esporte. Eu acredito que os patrocinadores têm um papel importante em tudo isso e eu preciso retribuir competindo no nível alto, por exemplo, conseguindo bons resultados mesmo aos 53 anos. Eu consigo ser um exemplo para jovens que olham e pensam “o Tinker tem 53 anos e ainda compete”, acho que posso ser um espelho para eles e mostro para as pessoas que nunca é tarde para pedalar. Não imagino que ano que vem eu vá precisar diminuir o ritmo ou tão cedo, eu gosto da competição e dos treinos diários. Quanto ao futuro, ainda não sei, o presidente da Cannondale ShoAir, acredita em mim e me dá garantias para competir e seguir vivendo o sonho. Mas no futuro quando eu tiver que parar, não irei me sentir desapontado, irei seguir envolvido com esporte ou talvez com a minha bike shop até.
Carlos: O que o levou a migrar do BMX para o MTB?
Eu comecei muito cedo no BMX, com 15, já era atleta profissional competindo pela Mongoose e adorei a experiência de competir e conhecer pessoas diferentes. Depois, conforme, eu fui envelhecendo e achando que não me adequava mais ao BMX, estava surgindo o MTB e eu tive a chance de entrar em um novo esporte, viver novas experiências e iniciar uma “nova” carreira