A Specialized anunciou hoje, dia 23 de junho, a mais nova bicicleta de sua linha de produtos: a S-Works Venge 2016.
A bicicleta foi vista na semana passada, sendo utilizada por Mark Cavendish e Peter Sagan durante o Tour da Suíça.
No início de junho de 2015 tivemos a honra de termos sido convidados para participar do evento de apresentação dessa máquina na sede da Specialized em Morgan Hill – California. Alguns poucos veículos do mundo do ciclismo foram convidados e, felizmente, fomos um dos escolhidos.
O evento de lançamento se chamava “5 Minutes Event” (Evento de 5 minutos). O trocadilho, na verdade, faz referência ao tempo que pode ser salvo, ao se pedalar 40km, utilizando os novos equipamentos lançados pela marca.
O lançamento não foi resumido à bicicleta especificamente. Foram na verdade 6 produtos novos:
- Capacete Evade (que não é novidade);
- Pneus S-Works Turbo;
- Rodas Roval CLX64;
- Nova Venge 2016.
Tabela de tempo
Utilizando todos esses equipamentos, você percorreria um percurso de 40km 5:32 minutos mais rápido do que uma pessoa que estivesse utilizando uma bicicleta Tarmac, com um capacete Giro, sapatilhas convencionais e vestindo um Bretelle e Camisa de ciclismo convencional.
Nesse post vamos entrar nos detalhes só das bicicletas e rodas, outros posts com os outros quatro equipamentos também serão publicados.
A Nova Venge
A nova versão da Venge sofreu DRÁSTICAS mudanças em relação ao modelo anterior. Todas as partes da bicicleta foram modificadas. As mudanças foram realizadas para maximizar a performance aerodinâmica e de dirigibilidade da bicicleta. O trabalho foi muito bem feito.
Como a Specialized é a única marca que possui um Túnel de Vento de altíssima tecnologia, “dentro de casa”, a capacidade de realizar mudanças no projeto e testar o resultado prático dessas mudanças, é enorme. Além disso, eles contaram com a ajuda da McLaren (equipe de Fórmula 1) para realizar os testes aerodinâmicos na rua, avaliando a performance da bicicleta em condições reais e não somente no túnel de vento.
Vamos então às mudanças principais que ocorreram na bicicleta:
Rider First Engineering
A nova Venge será a primeira bike dessa linha que utilizará o processo de desenvolvimento que a Nova Tarmac utilizou, o Rider First Engineering, que é um processo de construção onde cada tamanho de quadro tem um projeto diferente (entenda mais sobre a tecnologia aqui), fazendo com que quadros de todos os tamanhos tenham a mesma performance.
Para se ter uma ideia do tanto que o desenho dos quadros muda, de um tamanho para outro, tirei essas fotos de um quadro 50 e um quadro 60 (se não me engano). Vejam as diferenças gritantes entre os tubos e os formatos. Parece outra bicicleta.Downtube
Olhando de lado, você não consegue ter a noção do tanto que o Downtube mudou. Mas quando se chega perto da bicicleta é possível ver a diferença BRUTAL.
O downtube da bicicleta muda de formato completamente dependendo da parte que se analisa. Por exemplo, a parte mais próxima da caixa de direção é mais fina, já do meio para baixo, ele engorda bastante e muda de formato.
A explicação da empresa para essa mudança foi elaborada de acordo com os resultados do túnel de vento.
A parte superior do Downtube tem a função de “estabilizar” o ar que passa pela roda dianteira. A parte inferior tem a função de receber o ar e fazer com que ele flua melhor pelos componentes da bike e pernas do ciclista. Esse formato foi o que melhor conseguiu realizar essas duas funções.
Rodas
Apesar de ser um equipamento, as novas rodas Roval CLX 64 Rapide foram desenvolvias como parte do “sistema Venge” e possuem uma performance aerodinâmica realmente impressionante. Como podem ver no gráfico abaixo, principalmente em condições de vento lateral, a roda tem uma performance aerodinâmica superior até que a Zipp Super9 Disc em alguns momentos.
Somente as rodas, equipadas com os pneus S-Works Turbo, economizam 44 segundos em um percurso de 40km. Isso comparando com uma roda de alumínio convencional.
Mesa e guidão
A frente da bicicleta também foi completamente reformulada. Apesar de não ser uma peça única, a integração entre a mesa e o guidão é impressionante.
Isso deixou todas as pessoas que estavam no evento impressionadas. O belo formato do guidão, da mesa e a total e completa integração com os cabos. Esse conjunto foi batizado de “Aerofly ViAS cockpit”. Que conta com um ângulo negativo de 17º da mesa e o guidão Aerofly oferece uma elevação de 25mm.
Todo o cabeamento fica absolutamente invisível. Para realizar isso, eles desenvolveram uma caixa de direção com um rolamento diferenciado, com esferas minúsculas e um espaçador especial que fazem com que os cabos passem por dentro do rolamento da caixa de direção, eliminando a necessidade de um espaço adicional para a passagem de cabos, ou que os cabos precisassem “voltar a aparecer” para que passassem do guidão para o quadro. Foi realmente um trabalho de engenharia fantástico. Como essa mesa não tem regulagem de angulação, as opções para realizar o Bike Fit da bicicletas, em tese, ficariam limitadas, fazendo com que o guidão só pudesse ter elevado utilizando espaçadores entre a mesa e o quadro.O que ficou bem legal também é que a mesa já vem com uma estrutura para parafusar o suporte do ciclocomputador, para que não atrapalhe esse visual maravilhoso da mesa com uma linguinha de borracha.
Para resolver isso, eles desenvolveram vários modelos de guidão, cada um com uma “curva” maior ou menor. Ou seja, essa parte do guidão que se curva e se projeta para cima, pode ficar mais ou menos para cima de acordo com o bike fit do ciclista.
Para garantir que os ciclistas vão comprar a bike com a medida e o guidão com a configuração correta, eles criaram o Venge Finder. Um software que fica no site deles, instruindo o ciclista como informar as medidas dele e o programa diz qual a bike que ele deve comprar. Bem interessante.
Freios
Uma das partes mais interessantes e que, de acordo com os engenheiros, demorou mais tempo para ser criada e aperfeiçoada.
Os freios da bicicleta são completamente integrados, com peças impressionantes e, no caso dos freios traseiro, localizado em um local inédito na indústria da bike.
De acordo com os resultados do túnel de vento, os freios colocados abaixo da caixa de centro, como muitas bike de contra-relógio possuem, é o pior lugar para se colocar um freio. Isso porque na hora que o vento passa pelo downtube, ele acelera (isso por ser explicado pelo princípio de Bernoulli), dessa forma, ele atinge a região inferior ao BB com mais velocidade e gera um maior arrasto, caso o freios estejam lá.
Eles testaram as posições possíveis para identificar qual seria o local mais aerodinâmico e chegaram à conclusão que esse local seria no meio do Seattube.
O outro aspecto interessante de se colocar o freio nesse ponto é que a deformação da roda no momento em que o ciclista está fazendo força, não faz com que o aro se aproxime do freio, uma vez que o deslocamento da roda acontece na partes inferior e superior. Mas ela fica praticamente estática no meio.
Aerodinâmica
A Venge não era a bike mais aerodinâmica do mercado, na verdade, existem algumas concorrentes que tinham um coeficiente de eficiência aerodinâmica melhor do que a Venge. Mas de acordo com os gráficos apresentados pela Specialized, esse novo modelo não é só a bike de estrada mais aerodinâmica do mercado, mas, em algumas situações, mais aerodinâmica até que a Shiv. que é a bike de Contra-Relógio da Specialized.
Principalmente no vento lateral, a performance aerodinâmica da Venge é MUITO superior a da Shiv. O que é algo até difícil de acreditar. Mas não teria por que a marca “detonar” a bike de contra-relógio deles, se isso não fosse verdade.
Esse novo modelo (bike e rodas), quando comparado com a Tarmac SL4 com rodas leves de alumínio, chega 120 segundos mais rápido em um percurso de 40km. Ou seja, 2 minutos a menos, só com ganho aerodinâmico.
Conclusões
Eu tenho uma Venge e sempre achei essa bicicleta muito bonita e eles conseguiram melhorar muito o que eu já achava ótimo! Visualmente a bicicleta está bonita DEMAIS!
A Specialized não é uma marca focada em fazer bikes super leves, então essa bike não pesa 5kg como muitas outras que tem por ai. Ela pesa por volta de 6,8kg, que é o limite mínimo da UCI, portanto, se você é um “Contador de Gramas”, essa bike não é para você.
Outra preocupação, é com a manutenção desse sistema de cabos totalmente integrado. Apesar de os desenvolvedores afirmarem que é algo simples (e de fato eles mostraram para a gente e parece mesmo ser simples), na hora que for colocar isso na mão do mecânico, talvez complique com pouco. De acordo com eles, as instruções estão muito detalhadas no manual. Então, acho que cabe ao dono da bike ler o manual e acompanhar o trabalho do mecânico (que também deve ler o manual).
Preço
De acordo com a marca, inicialmente, serão duas versões. A S-Works, que é a bike das fotos, e a versão Pro. O quadro de ambas será absolutamente igual, inclusive o guidão. O que vai mudar são os equipamentos, que serão mais simples na versão Pro.
O modelo S-Works custará 12.500 dólares nos Estados Unidos e aqui no Brasil R$58.999. Em setembro de 2015 as primeiras bikes desse modelo chegarão nas lojas para os brasileiros.
Especificações
Aqui nesse link, tem o PDF com a descrição com todas as especificações técnicas da Bike, geometria, medidas e componentes da bicicleta.
Curiosidades
Bike de Peter Sagan estava lá já montada com todas as medidas dele. Reparem como o guidão é “Flat” diferente do modelo que estava em exposição.
Galeria de fotos