O ciclismo é considerado um esporte complexo. As competições são divididas em provas de pista (velódromo) e provas de rua (estrada), individualmente ou por equipes. As provas de estrada apresentam características distintas em relação à duração, intensidade e topografia. Entre elas podemos destacar o Tour de France, com um percurso de aproximadamente 3.000km, percorridos durante 21 dias ininterruptos, entre os mais variados tipos de terrenos.
O que é fadiga muscular
A fadiga muscular pode ser definida como um conjunto de alterações decorrentes do trabalho ou exercício prolongado, gerando incapacidade funcional na manutenção de um nível esperado de força. Dessa forma, a fadiga muscular está associada a mecanismos e fatores metabólicos, que podem afetar os músculos (fadiga periférica) e o sistema nervoso central – SNC (fadiga central) durante a realização de exercício intenso em atletas.
Onde ocorre a fadiga
As competições de estrada têm como característica a manutenção de alta intensidade por tempo prolongado, o que resulta na instauração do processo de fadiga, principalmente em função das mudanças na produção de torques resultantes das contrações musculares e na atividade elétrica dos músculos dos membros inferiores.
Há evidências a favor e contra o fato de o SNC constituir um local de fadiga. Todavia, alguns estudos apontam a periferia (ou o músculo) como o principal local da fadiga, pois fatores metabólicos que impedem a produção de força muscular têm sido observados.
As alterações metabólicas no ciclismo, como a perda de elementos fundamentais do organismo como: água, sangue e eletrólitos (sobretudo sódio e potássio), que são substratos de energia e o acúmulo de derivados metabólicos, são dependentes da intensidade e duração da prova. Em atividades com intensidade entre 60 e 90% do consumo máximo de oxigênio (VO2MAX), a fadiga ocorre em decorrência da perda desses elementos fundamentais das reservas de glicogênio, enquanto que, em intensidades acima de 90% do VO2MAX, a redução do desempenho acontece em função da produção excessiva de lactato sangüíneo.
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Em um estudo envolvendo ciclistas treinados, foi observada redução na produção de torque dos músculos extensores da articulação do joelho, logo após o término de uma prova de estrada. De acordo com os autores, a incapacidade na geração de força não ocorreu devido à fadiga central, mas sim à fadiga periférica (fadiga muscular), pois, mesmo após percorrer 140km, os ciclistas avaliados apresentaram aumento nos picos de ativação elétrica durante um teste de contração voluntária máxima (CVM).
Cientistas analisaram os efeitos da fadiga muscular no torque e na atividade elétrica de nove ciclistas treinados. Os atletas pedalaram durante cinco horas a 55% da potência aeróbica máxima. Os autores verificaram redução de 18% no torque durante testes de CVM (pré e pós) e decréscimo na atividade elétrica dos músculos vastus lateralis (VL) e vastus medialis (VM) a partir da primeira hora de exercício, o que significa que houve fadiga tanto do SNC quanto periférica.
Consequências da fadiga
Como conseqüência das modificações metabólicas causadas pela fadiga durante a pedalada, podemos apontar as mudanças nos padrões de ativação muscular e na capacidade de produção de força. Tais alterações têm sido descritas na literatura e podem ter repercussão na magnitude, direção e sentido de aplicação das forças no pedal, afetando assim a técnica da pedalada e, conseqüentemente, o desempenho do atleta.
A presença de fadiga muscular, seja de natureza central, periférica ou ambas, possui ampla repercussão no ciclismo, uma vez que as modificações que ocorrem na condução do estímulo nervoso e na placa motora provocam prejuízos no desempenho durante competições, particularmente em provas de longa distância.
É possível constatar que o processo de fadiga pode apresentar origens distintas e provocar a redução do desempenho dos ciclistas. Entretanto, existe uma lacuna no que diz respeito a estudos que associem a fadiga muscular com o comportamento das forças aplicadas no pedal e o padrão da ativação muscular no ciclismo.
Fonte: Aspectos relacionados à fadiga durante o ciclismo: uma abordagem biomecânica
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