Algumas pessoas já me questionaram no Strava, por que eu passei tanto tempo sem utilizar monitor de batimento cardíaco em meus treinos. Então, resolvi escrever um pouco sobre isso.
Antes de mais nada
Eu não sou preparador físico, então minha intenção com esse post não é que ninguém siga isso como um método de treino, ou que as pessoas parem de acompanhar os BPM.
Antes de mais nada 2
Eu não sou louco… Já fiz vários testes de esforço com eletrocardiograma que demonstram que não tenho nenhum problema cardíaco.
É importante salientar que todos os ciclistas devem fazer isso e verificar se não existe nenhum tipo de problema cardíaco e verificar se existe algum risco de ultrapassar um certo nível de BPM.
Por que parei de usar?
Eu parei de utilizar o monitor cardíaco depois que fui participar de um Campeonato Brasileiro de ciclismo de Estrada Master e Sub-30 na cidade de Campos de Goitacazes no Rio de Janeiro.
Sempre tive o batimento cardíaco alto e às vezes ver o meu bpm acima de 190 me assustava. Durante a prova, eu estava me sentido relativamente bem e olhei para o BPM… Estava 193. Aquilo destruiu a minha cabeça. Pensei: “Caramba, estou cansado”. Ou seja, o monitor cardíaco me disse que eu estava cansado. Mesmo eu me sentindo bem, fui mal pra caramba na prova.
Depois desse dia, eu resolvi parar de usar o monitor por um tempo e acabei ficando mais de dois anos sem utilizar essa informação como referência.
Resolvi tomar a atitude radical para me desintoxicar da necessidade de olhar aquela informação com frequência.
E digo que foi muito bom para mim. Como eu não tinha mais essa informação, eu tive que começar a prestar atenção nas sensações do meu corpo, para ter uma noção do nível de esforço que estou fazendo. E a percepção de esforço, quando se tem uma boa sensibilidade para interpretá-la, é a melhor forma de saber quanto esforço você dá conta de fazer e por quanto tempo.
O batimento cardíaco varia de acordo com o dia. Se você tomar café demais, seu batimento vai estar mais alto, se estiver cansado, seu batimento não vai subir (dando dois exemplos). A percepção de esforço não tem isso. Se você souber interpretar o seu corpo, saberá a condição que tem e não vai precisar que o ciclo-computador te diga isso.
Tipos de treino que gosto de fazer para melhorar a percepção.
Eu gosto muito de fazer treinos de passo, como se fosse um contra-relógio, com pelo menos 1 hora de duração, tentando fazer o máximo de esforço possível, sem quebrar, sem aliviar e sem olhar os batimentos cardíacos.
Faço isso para passar muito tempo fazendo força, mas sabendo dosar o esforço máximo que eu posso fazer, de forma sustentável, para que eu não quebre no meio do treino e terminá-lo no exato momento que a minha força acaba.
Para isso, eu preciso “escutar” o meu corpo e acelerar ou desacelerar de acordo com a percepção de esforço.
Voltei a usar e parei de novo
Depois desse período de dois anos, eu voltei a usar o BPM e fiquei mais ou menos um ano usando, mas eu não deixava a informação na tela principal do Garmin, deixava lá para a terceira página. Pois continuava não querendo ver a informação, eu utilizava apenas para analisar no final do treino.
Usei até a bateria da fita acabar e parei novamente, não me fazia falta aquilo e seguia utilizando os treinos para apurar a minha percepção de esforço.
Há poucas semanas, voltei a utilizar novamente e depois de tanto tempo sem usar a fita, é engraçado como é possível dizer com uma boa precisão, se estou em um Z3, Z4 ou Z5. É bem nítido a variação de esforço e ver isso refletido fidedignamente no monitor é bem interessante.
Mas continuo não utilizando a informação durante os treinos e apenas para ver os números depois do esforço.
Excesso de informação numérica e falta de conhecimento próprio
O que eu vejo atualmente, é que muito atleta amador utiliza muitos aparelhos, potêncímetros, monitores de várias coisas para ter informações e não se conhece. Depende da informação do ciclocomputador para saber se está bem ou mal.
Se acabar a bateria do Garmin o cara não sabe nem como subir na bicicleta. E apesar de não ser treinador, eu não acho isso interessante.
Acho importante conhecer o próprio corpo e ter a sensibilidade para fazer força, sem precisar ver um número para saber o esforço que você dá conta de fazer.
Não é simples desenvolver essa sensibilidade. Eu demorei um bocado de tempo, mas hoje acho ótimo.