Nós tivemos o prazer de bater um papo com a Raiza Goulão, uma das atletas brasileiras de maior expressão no ciclismo mundial.
Raiza Goulão Henrique, 27 anos, natural de Pirenópolis (GO), sempre amou os esportes. Aos 16 anos de idade iniciou no ciclismo e, desde então, vem colecionando títulos expressivos no mountain bike.
Raiza Goulão é bicampeã Pan-Americana sub-23, medalha de prata nos Jogos Sul-Americanos de 2014, bicampeã da Brasil Ride, quinta colocada na Cape Epic, principal ultramaratona do mundo e, se já não bastasse, a atleta já representou o Brasil nos Jogos Olímpicos.
Em 2016, Raiza Goulão concluiu sua participação nas Olimpíadas do Rio 2016 na 20ª posição. Em 2017, assinou contrato profissional com a equipe espanhola Primaflor-Mondraker-Rotor-
Raiza, primeiramente gostaria de agradecer pela disponibilidade e toda atenção que nos foi dada. Vamos começar perguntando como avalia sua atual temporada e quais os planos/projetos para 2019?
Ricardo, esse ano de 2018 foi um ano de muito aprendizado. Tive ótimos resultados nesta temporada conquistando o título de Campeã Pan-Americana e também pódio em duas etapas do Cape Epic. Foi um ano também de muito aprendizado, devido há algumas lesões, alguns problemas em que eu tive que trabalhar muito mais com o psicológico, para suportar toda a pressão, que muitas vezes eu mesma me colocava, fora os problemas técnicos durante as provas. Então, este ano foi marcado por altos e baixos, e para 2019 vem equipe nova por aí…
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O que é mais difícil na vida de uma atleta profissional?
Acredito que o mais difícil é lidar com a pressão, que muitas vezes o próprio atleta coloca em relação as expectativas que se criam. Tento trabalhar esse equilíbrio entre a pressão e a realidade. Manter o foco durante todo o ano também é muito difícil. Não ceder às pressões e se manter focada mesmo durante os maus momentos, que muitas vezes surgem com as derrotas, levando tudo como um grande aprendizado, é o grande desafio.
Em média, você treina quantas horas por dia? Também pratica ciclismo de estrada?
Sim, também treino com speed. E meu volume de treino varia muito de acordo com minha periodização. Se estou fazendo treino de base, faço treinos de até 5 horas.
A minha rotina de treino normalmente resume-se em pedalar seis vezes na semana, entre treinos de mtb e speed. Também faço trabalho de fortalecimento na academia, de duas a três vezes por semana normalmente. Durante todo o ano também faço muito alongamento, fisioterapia e liberação miofacial, com aqueles “rolinhos”. Atualmente estou treinando com o Vitor Rodrigues, ele é espanhol e nós já estamos trabalhando juntos há alguns anos, fazemos um trabalho muito legal, acredito muito no trabalho dele.
Como vê o mtb no Brasil? E o mtb feminino?
Ricardo, o mountain bike nacional vem crescendo muito rápido. Estamos vivenciando um período muito bom, principalmente com resultados expressivos no cenário mundial do Henrique Avancini, acho que isso agrega muito valor ao nosso esporte. O mountain bike feminino é uma modalidade que o Brasil sempre se destacou com muitas atletas talentosas, mas precisamos crescer ainda mais.
No meu projeto Time Raiza Goulão nós buscamos e incentivamos novos talentos, os incentivos do esporte não devem se resumir aos atletas profissionais. Precisamos investir na base, apresentar o esporte aos jovens. Assim como incentivar os ciclistas amadores a participarem dos eventos esportivos. Apesar do ciclismo ter crescido muito nos últimos anos, precisamos de mais espaço nas principais mídias. Mas, graças ao nosso trabalho, esse paradigma vem sendo quebrado..
Quem são seus ídolos no esporte?
Eu gosto muito do trabalho da Jolanda Neff. A Gunn Rita também me motiva muito, como pessoa e atleta. Meus ídolos no esporte são pessoas que passei a ter contato fora da bike, e acabaram me conquistando.
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- Gunn Rita (Team Mérida): Campeã dos Jogos Olímpicos de Atenas, 10 vezes Campeã Mundial e 9 vezes Campeão Europeia.
- Jolanda Neff (Trek Bikes): Campeão Mundial e 3x Campeão Europeia.
Prefere provas de xco, maratona ou provas com múltiplos estágios?
Adoro provas de XCO, mas as provas de múltiplos estágios, como a Brasil Ride e o Cape Epic, estão me conquistando cada dia mais.
Você é bastante envolvida com projetos sociais e ambientais. Você acredita que a comunidade do mtb também está preocupada com a preservação do meio ambiente de forma geral? Como é essa questão fora do Brasil?
Sim, Ricardo. Me dedico bastante aos projetos sociais, temos hoje o Time Raiza Goulão e eu tinha também um projeto aqui na minha casa, a escolinha CT Raiza Goulão. Gosto de dar a oportunidade para as pessoas conhecerem e praticarem o esporte. Algumas oportunidades que não tive inclusive.
E, sim, o meio ambiente é uma coisa que me conquista. Adoro estar em contato com a natureza, ir para o meio do cerrado, desbravar e construir trilhas, sempre de forma sustentável. Fora do Brasil existe uma cultura muito diferente, o ciclismo é reconhecido, existe investimento e envolvimento.
Alguma corrida ou local que gostaria de pedalar mas ainda não pedalou?
Tem muitos locais que eu ainda não conheço e ainda sonho conhecer. Whistler, no Canadá, está no topo da lista, falam que é o paraíso para ciclistas. Também quero conhecer o Caminho de Santiago de Compostela. São locais que a gente só conhece por fotos, gostaria de ir para Whistler pelo treino e técnica e para o Caminho de Santiago pela experiência.
A cidade de Pirenópolis é o paraíso do mtb. “Piri” teve alguma influência na sua carreira de atleta?
Até meus 16 anos eu não conhecia o mountain bike. Mas aqui em Pirenópolis sempre teve muito atleta, pessoas de toda a região vem para Pirenópolis para praticar mountain bike. E depois que entrei para o mundo do ciclismo, aí sim eu conheci uma outra cidade. A cidade de Pirenópolis foi decisiva na minha vida, o contato com as pessoas que já praticavam mtb e o nível das trilhas aqui da cidade me ajudaram bastante. Pirenópolis é um dos melhores locais para prática do mountain bike do Brasil.
Gostaria de deixar alguma mensagem?
Bem, eu queria agradecer ao PraQuemPedala pela oportunidade e deixar o recado para todo mundo que pratica o mountain bike que curta a vibe e que curta o meio ambiente, porque o mountain bike sempre nos proporciona uma experiência incrível, o contato com a natureza, fazer novas amizades, enfim. Então vamos curtir o mountain bike, vamos compartilhar essa ideia e vivenciar esse momento.