Com um discurso protecionista e antiquado, a ABRACICLO e a Caloi defendem um modelo de negócios que é péssimo para o mercado de bikes e para os consumidores.
Fui convidado para participar de uma Coletiva de Imprensa da ABRACICLO (Associação Brasileira de Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares). Vimos a apresentação das histórias e da novas marcas que passaram a integrar a ABRACICLO, que antes contava só com a CALOI (e as marcas da Dorel, Cannodale, GT, Schwinn e Mongoose, depois que a empresa que comprou o controle da Caloi).
Foram mostrados alguns números do mercado, que vem sofrendo com a crise e as ações de apoio ao esporte que as quatro marcas que agora integram a ABRACICLO (Caloi, Houston, OX e Sense) fazem para desenvolver o esporte e o mercado de um modo geral.
O que me deixou bastante frustrado e até mesmo irritado, foram as falas do Presidente da Cannondale Sports Unlimited do Brasil, antiga Caloi, Eduardo Musa, com relação às estratégias de protecionismo de mercado e aumento de impostos para bicicletas importadas defendidas abertamente e com um elevado tom de grosseria e arrogância em suas falas.
Com um falso discurso nacionalista, no qual diz que o mercado brasileiro tem que ser protegido para o bem da indústria nacional, para que possa gerar empregos, e que, na verdade, beneficiam um grupo pequeno de empresas e condenam os consumidores brasileiros a terem produtos de baixa qualidade, ou então gastarem fortunas para comprarem as bikes de marcas importadas.
Em 2014, Musa se declarou contra a redução dos II (imposto de importação) de 35% para 20% para bikes importadas, inclusive ameaçando tirar a sua produção do Brasil (para fazer pressão política e evitar uma concorrência um pouco mais honesta), criando uma barreira alfandegária para os bons produtos internacionais e fazendo com que as fabricantes brasileiras tenham uma competitividade irreal com as bikes de fora.
E depois da compra da CALOI pela Cannondale, as marcas importadas do grupo passaram a ter os mesmos benefícios e isso fez com que todas as outras marcas, que não fossem do grupo deles, ou tivessem fábricas no Polo Industrial de Manaus, tivessem que conviver com uma pesada carga tributária, que tem feito com que pessoas que estão tentando fazem um trabalho sério de representação de marcas importadas, não tenham condições de competir e muitas das importadoras estão passando uma grande dificuldade com a recente alta do dólar.
Esse discurso ultrapassado protecionista, que é adotado por muitas empresas no Brasil de diversos segmentos, é o responsável pela péssima qualidade da nossa indústria, que se apoia em barreiras desse tipo de política, lobbys e barreiras de importação, e que impedem uma livre concorrência com as marcas lá de fora, que competem em um mercado aberto e precisam seguir um padrão de qualidade mundial para sobreviverem.
As empresas “protegidas” do Brasil, se utilizam de uma espécie de “Doping”, para fazer a analogia com o esporte, que é essa política tributária, que permite com que elas façam um produto de qualidade muito inferior aos feitos no mercado internacional, mas continuem vendendo já que inviabilizam a compra de um produto importado. E um detalhe… as marcas “importadas”: Cannondale, GT e etc… Continuam com os preços altos, ou seja, a margem fica enorme e o consumidor continua pagando caro, como se estivesse importando uma bike.
Enquanto uma bike Top de linha custa 11.000 dólares nos Estados Unidos, somos obrigado a pagar 60/70 mil reais aqui no Brasil, por conta desse tipo de política. Além de todo o mal que isso faz para os representantes, importadores e lojistas, que não vendem bikes das marcas que fazem parte desse grupo, mas que também são geradores de empregos e dinamizam a economia do país e são obrigados a conviver carregando essa pesada âncora que são os impostos no Brasil, gera toda uma cadeia equivocada de soluções de problemas que mantém o Brasil eternamente no buraco.
Por exemplo, foram levantados problemas de logística e estruturais que existem no Brasil como algo que dificulta o trabalho da indústria nacional. Se as marcas fossem obrigadas a concorrer abertamente com as marcas lá de fora, elas fariam pressão para que o governo melhorasse as condições de logística e infraestrutura produtiva do Brasil. Mas, não! Preferem fazer lobby para que subir impostos e com isso fazer com que não aconteça a livre concorrência e nós continuamos com todos os problemas e o brasileiro condenado a comprar produtos ruins.
E o falso discurso de que isso é feito para gerar empregos e investimento é uma grande mentira. Se tivéssemos vivendo em um ambiente competitivo, nossos produtos seriam muito melhores e seriam demandados pelo mundo todo. Isso aumentaria as nossas fábricas, investimentos e consequentemente aumentaria os empregos, apoio ao esporte, patrocínios, provas e etc. Ou seja, esse discurso protecionista não passa disso, de um discurso!
O que mais me indignou, foi ouvir o Sr. Musa, depois de questionado por essa questão dos impostos, dizer que a mídia (nós) tem que vender a ideia “certa” para os usuários, de que o mercado nacional tem que ser protegido. Ou seja, temos que enganar os consumidores. Ou então convence-los de que devem conviver com produtos ruins para o benefício de um ou um seleto grupo de empresas.
Se um dia nós quisermos que a indústria nacional cresça, precisamos começar a competir de verdade com os produtos internacionais, para que atinjamos o padrão de qualidade deles, que é o padrão de qualidade exigido pelo mundo e possamos, não só vender para o mercado interno, mas para o mundo todo.
Minha esperança
A única coisa positiva que eu ouvi nessa reunião foi que pessoas novas, com uma cabeça mais dinâmica e moderna para como deve funcionar um mercado que quer ter um padrão internacional e atender de forma corretas os consumidores, estão fazendo parte da ABRACICLO.
Pessoal da Sense, Audax e OX são pessoas que possuem uma visão de mundo mais competitiva, moderna e eu realmente espero que eles consigam fazem um trabalho de mudança de dogmas dentro dessa Associação e que retirem essas políticas protecionistas que vendem uma ideia de “nacionalismo”, mas que na verdade só servem para garantir uma vantagem competitiva para um pequeno grupo de pessoas.
Conheci os produtos dessas fábricas que citei acima e fiquei muito feliz em ver produtos realmente bons sendo feitos no Brasil. Com a preocupação de desenvolver algo que realmente tenha condições de competir com produtos “gringos” e fiquei feliz em saber que esse tipo de projeto estava sendo tocado por marcas brasileiras. Esse é o caminho! Não o “doping” competitivo.