Durante essas Olimpíadas, o Team USA conquistou a sua milésima Medalha de Ouro em Jogos Olímpicos e isso tudo é fruto de um trabalho muito bem feito por uma organização muito inteligente.
O segredo desse sistema que supera de longe todos os países nos resultados é planejamento para atrair DINHEIRO PRIVADO.
Antes de mais nada, vamos fazer um retrato da situação do Brasil
No Brasil, temos uma cultura de demandar tudo do Estado, só que esquecemos que o Estado não gera recursos, ele simplesmente arrecada dinheiro das pessoas físicas e jurídicas do país (Eu, você e das empresas). E tem uma péssima competência para gerir esse dinheiro. Geralmente os planejamentos são feitos com foco em eleições e não tem um pensamento que olhe para mais de quatro anos para frente.
Então, dependemos de leis de incentivo ao esporte, estruturas construídas por governos para as práticas esportivas e recursos seletivamente alocados em algumas modalidades que geram retorno mais rápido, ou em mega-estruturas para grandes eventos como Copa do Mundo e Olimpíadas, que não geram melhoria nenhuma no esporte em si.
Como o foco é nas próximas eleições, ninguém faz um investimento na base das modalidades. Pois isso leva bem mais do que quatro anos para dar retorno de mídia e de popularidade para um governante que investiu o nosso dinheiro.
O COB, que depende de verbas Estatais, ou de verbas privadas que vem através de subsídios estatais (que dá na mesma e geralmente acaba sendo foco de corrupção), não tem verba para repassar esse dinheiro para as federações regionais, que, por sua vez não, conseguem se organizar e investir em eventos locais e estruturas para desenvolver as diferentes modalidades.
Dessa forma, o esporte segue nesse parafuso espanado que gira, gira e não sai do lugar. E dependemos de miraculosos esforços individuais como os poucos medalhistas que conseguiram conquistar a vitória apesar de tudo lutando contra. E mesmo assim, continuar numa vida sofrida e sem uma garantia de futuro… Pois temos medalhistas Olímpicos passando fome no Brasil
Como funciona nos Estados Unidos?
O Team USA, como é o nome utilizado pelo Unites States Olympic Comite (Comitê Olímpico dos Estados Unidos) tem um enorme faturamento que vem todo de empresas privadas. Em 2014, eles tiveram uma receita de 272 milhões de dólares. 41% desse valor, 111 milhões de dólares, vieram de direitos de transmissão de imagens de provas das diferentes modalidades. 35% vem de patrocínios que possuem o direito de usar o nome e marcas dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos. O restante vem de outra fontes, inclusive doação de pessoas físicas.
Desses 272 milhões, 94% é investido nos atletas e despesas relacionadas ao seu desenvolvimento com atleta e como marca e nos centros de treinamento do Comitê. E como o dinheiro é privado, dificilmente ocorrerão desvios.
São três grandes centros do USOC espalhados pelos Estados Unidos, o maior deles, em Colorado Springs, em 2014 contava com 11.312 atletas.
Detalhe: Todos esses valores estão em um balanço público e auditado por uma grande empresa independente de auditoria. Para quem tiver a curiosidade de ver os números, cliquei aqui
O comitê faz parcerias com Organizações de Desenvolvimento Nacionais que tem a missão de trazer a experiência dos diferentes tipos de esportes para crianças. Com o objetivo de que essas crianças um dia sejam selecionadas para integrar o Team USA. Os “olheiros” começam as seleções desde cedo.
As universidades americanas investem pesado nos atletas, cobrando deles um bom desempenho nos esportes e nos estudos. Ou seja, lá, ele continua no esporte, mas não deixa de ter um diploma em uma boa Universidade, na qual ele ganha bolsa por ser atleta.
Por que o dinheiro provado faz com que isso funcione?
Ao contrário do dinheiro vindo do governo, que tem foco nos próximos quatro anos, empresas fazem planejamentos de longo prazo. Olhando 10, 20 anos na frente.
O USOC entendeu isso e criou um planejamento de desenvolvimento de atletas de ponta, que geram visibilidade e retorno de exposição para marcas de empresas. Mostrando esse “Valor Agregado” que o esporte tem, as empresas entendem a necessidade de investir nas crianças e projetos que vão gerar grandes atletas daqui a 10, 15 anos.
E mais do que isso: CONTINUIDADE. Atualmente, a indústria do esporte nos Estados Unidos é algo tão grandioso, que todas as empresas entendem que isso é algo que tem que ser contínuo, ou seja, o investimento na base do esporte não acaba nunca.
Imagine o tamanho da economia que gera em torno do esporte nos Estados Unidos. Existem competições de todas as modalidades esportivas desde a primeira infância das crianças. Cada escola tem uma equipe técnica com profissionais capacitados em cada modalidade para as diferentes modalidades.
Existem campeonatos municipais, regionais, estaduais e nacionais de todas as modalidades possíveis… Então imagina a quantidade de técnicos, auxiliares técnicos, pessoas de apoio, lojas de venda de equipamentos, organizadores de eventos, transmissões de TV…. Etc, Etc e etc, em cada cidade americana… Faça uma extrapolação e imagine o tanto de dinheiro e empregos que todas essas coisas somadas não geram.
Essa visão de negócio, que não consegue ser adotada pelo Brasil, faz com que os atletas tenham uma enorme estrutura desde criança. Tenham um acompanhamento técnico, nutricional, psicológico, aprendam a lidar com imprensa desde cedo, quando o jornal da cidade for entrevistar o campeão do campeonato municipal de Ensino Fundamental de Curling de alguma cidade de interior, ele estará dando uma entrevista e aprendendo a lidar com essas coisas.
Ou seja, é um trabalho muito inteligente, pensado para criar atletas, que viram marcas, que trarão retorno financeiro para empresas, que vão bancar toda essa estrutura.
Resumindo o exato oposto que vemos por aqui… Aqui gastamos alguns bilhões do dinheiro da saúde, segurança e educação para fazer alguns estádios e Vilas Olímpicas e pronto… Sabe o que isso vai mudar no cenário do nosso esporte? Nada!
O esporte não vale a pena no Brasil. Podíamos ter um Michael Phelps brasileiro, que resolveu estudar direito e parar de nadar, pois sabia que a vid de atletas é muito sofrida e incerta no Brasil e não quis arriscar. Não existe esse medo nos Estados Unidos.
Por outro lado, temos que dar um valor GIGANTESCO para nossos atletas, que apesar de tudo isso, conseguem, em raras ocasiões, superar os atletas que tiveram toda essa estrutura.