Nosso parceiro Weimar Pettengill foi participar de uma corrida muito louca feita pela Red Bull no meio da floresta amazônica! Vejam que TOP foi essa experiência!
Red Bull Amazônia Kirimbawa
Kirimbawa para os índios da Amazônia traduz-se em um processo pelo qual o guerreiro, bravo e audacioso, busca sua evolução espiritual. E para quem vive a vida enlouquecida das grandes cidades, foi preciso um brado para entender que o Red Bull Amazônia Kirimbawa seria mais que uma simples competição.
Foi no CIGS – Centro de Instrução de Guerra na Selva do Exército Brasileiro em Manaus, casa do Guerreiro de Selva, que o Exército nos ensinou, rapidamente, o significado de embarcar nessa aventura e, literalmente, desembarcar na maior Floresta do mundo. O brado? - S E L V A.
Curto e grosso. Do fundo da alma. Um compromisso assumido em alto e bom tom por 90 dos melhores atletas brasileiros da corrida de montanha, do mountain bike e da canoagem. Após o sorteio dos 30 times, sendo 03 femininos, embarcamos rapidamente nos 5Ton – nome dado aos caminhões 4×4 do Exército. Hotel? Piada. Fazer o check in no melhor hotel de Manaus, o Tropical, foi como ver um doce na prateleira, tocá-lo, sentir seu cheiro, e não dar uma única beliscada.
Eram 22h, aproximadamente, quando os corredores embarcaram em um navio em direção à Tribo Inhaã-Bé, atravessando o Igarapé na margem esquerda do Rio Negro. Depois de uma hora de navegação, foram recebidos pelos índios em um ritual de proteção e boas vindas. As redes montadas pelo Exército deixaram de fora os mosquitos, mas quem consegue mesmo dormir em rede, faltando poucos minutos para o tão esperado “JÁ”? Pelo que pesquisei, ninguém dormiu. Às 03 horas da madrugada foi dada a largada para 50km de corrida em meio à mata, inicialmente por um trecho de trilhas, seguindo depois por estrada de terra e, no fim, novamente por trilhas, atravessando igarapés e rios.
Nós, ciclistas, tivemos sorte um pouco diferente. Nas palavras do Tricampeão do Brasil Ride, Abraão Azevedo, “Se tudo der certo, nós estamos f. Se der errado, Sinhora D’Abadia!”.
Logo que subimos nos caminhões de transporte de tropa, às 23h, um calor insuportável tomou conta do ambiente. Imagine 30 dos melhores atletas do Brasil, acostumados a dormir cedo como preparação para a guerra, agora sentados em um caminhão à espera do desconhecido, suando feito tampa de chaleira. O calor foi imediatamente trocado pelo frio quando o comboio pôs-se em movimento, Alguns tentando dormir, em vão. Cerca de uma hora depois entramos na estrada de terra, e o motorista mostrou a valentia do caminhão. A estrada com muita lama, erosões inacreditáveis era tão estreita que várias árvores ficaram nos pára-lamas do Bruto. Tenso. Muito tenso.
Mas não melhorou quando chegamos à tal clareira – onde deveríamos pernoitar. Duas barracas do Exército estavam montadas (Teto e Paredes), e tivemos cerca de 1h para abrir os mala-bikes, montar as bikes, separar a roupa que deveria seguir para a chegada da modalidade, preparar o material para dormir e tentar, em vão, descansar um pouco.
Uma luz acesa, caminhões manobrados durante toda a noite. Um louco tentando contato no rádio: – P4, P4, Clareira, copia? seguido da estática. PELAMORDEDEUS, sô, calaboca… Todos pensavam a mesma coisa, mas só a Julyana Machado, 5x Campeã Brasileira de Maratona, teve coragem de falar.
Mas não adiantou muita coisa. Repelente? Mosquitos adoram. Parecem gritar: – Vamo lá, cambada, aquele careca ali tomou banho de repelente, pega ele e vamo ficá doidão… A nuvem de mosquito chega e o cidadão corre pra dentro do saco de dormir. Em 3 minutos começa a transpiração, como se estivesse em uma sauna. Foram duas horas no ritual Borrachudo – Sauna, até que um maluco começou a gritar: – Os corredores estão chegando…
Nunca me aprontei tão rápido na vida. O primeiro corredor foi Fernando Bezerra da Silva, de São Paulo, com 3h15 – Pace médio de 3:55 m/km. Na floresta, à noite! Ele que tem uma história de vida de emocionar: trabalha com coleta de lixo, pendurado de 5h da manhã às 17h em um caminhão, quando então sai pra treinar. E a mídia venerando jogador de futebol como exemplo! Foi seguido de perto por Alexandre Manzan e Israel de Deus – ambos de Brasília.
Larguei para 86km de MTB em plena selva, desnorteado pelo processo de wake up: Aquele grito ao pé do ouvido ainda ecoava, enquanto tentava escolher o melhor caminho. Tudo reluz, de liso. Embora sem chuva, tudo é absolutamente molhado. Sem falar no terreno craquelento, como se torrões de barro muito duro – argila na verdade – estivessem espalhados na estrada. Não há linha uniforme para apontar a roda, e o desnível entre os torrões é muito alto, chegando a 20cm! Ou seja, os primeiros 20km foram na expectativa de uma queda fenomenal – que felizmente não aconteceu!
Pior só os últimos 20km. Não enfrentamos nenhuma serra, mas nada na floresta é plano. Ou estamos descendo a 60km/h, ou subindo na marcha mais leve, peito encostado do guidão, musculatura travada. Estou louco para ver meu Strava!
Apesar de não ter rodado em trechos técnicos ou singles, todos estávamos “lateralizados” , empenados mesmo, quando o trecho de MTB foi finalizado. Ainda não eram 10h da manhã e o calor era algo insuportável.
Orlando Silva, de SP fez o melhor tempo com 2h47, seguido pelo Ricardo Pscheidt – 1 seg atrás, e Raphael Catalão Mesquita com 2h55.
Mas o grande desafio foi realmente a canoagem. Seriam 45km subindo o Rio Amazonas, passando pelo encontro das águas e contornando Manaus pelo Rio Negro. Mais de 6h em um calor sufocante, sol inclemente, sem água para beber, navegando em busca de Postos de Controle.
“Foi a coisa mais estúpida que fiz na vida”, ouvi de um canoísta quando completou a prova. Foi algo digno de um Kirimbawa terminar o desafio proposto. Tanto que 9 das 30 equipes abortaram a empreitada. Mas os três times femininos representaram! Cem por cento de efetividade, deixando alguns marmanjos de queixo caído.
No domingo fomos ao Rio Negro, nadar e fazer uma homenagem à floresta. Seguindo o ritual Havaiano, os canoístas Remy Lave (Francês) e Alexey Bevilacqua (Goiano radicado em Florianópolis) tecerem colares feito de Ti, uma folhagem sagrada, e os depositaram no rio. Alexey explicou-me que o colar simboliza o cordão umbilical, que nos une à mãe terra. Agradecemos à proteção e nos abastecemos da energia da maior floresta do mundo.
SELVA.
Weimar Kirimbawa Pettengill
Resultados:
Por Equipes (masculino):
- 1º. Xingu;
- 2º. Tucano;
- 3º. Ariranha.
Por equipes (feminino):
- 1º. Amazonas;
- 2º. Onça Pintada;
- 3º Arara.
Individual – Corrida:
- 1º. Fernando Bezerra da Silva;
- 2º. Alexandre Manzan;
- 3ºIsrael Barbosa de Deus.
Individual – MTB:
- 1º. Orlando Alves Silva;
- 2º. Ricardo Pscheidt;
- 3º. Raphael Mesquita.
Individual – Canoagem:
- 1º. Michel Altoé;
- 2º. Marcelo Lins;
- 3º. Remy Lave