Hoje, tivemos que dar uma das notícias mais tristes da história do PraQuemPedala, a de que o ciclista de Ultramaratonas Cláudio Clarindo havia morrido.
Com certeza, ele foi uma das figuras mais interessantes que conheci no mundo do ciclismo. Um cara apaixonado pelo esporte, que queria defender o ciclismo de estrada em um país onde o ciclismo é inexistente e boa parte do pouco investimento que existe, é destinado ao MTB.
Clarindo era considerado como um dos 10 melhores ciclistas de longas distâncias do mundo e já completou 5 vezes a prova mais difícil que existe, a Race Acros America, onde se pedala 5 mil km entre as costas dos Estados Unidos.
Eu tive a oportunidade de registrar uma grande façanha de Clarindo, que foi pedalar até a CycleFair de 2013 em São Paulo, saindo do Rio de Janeiro.
Além da resistência incrível que ele tinha para pedalar por distâncias impressionantes, ele tinha uma capacidade ainda maior de se comunicar, de explicar seus equipamentos, descrever as suas aventuras e de cativar as pessoas com a sua fala. Com certeza, era um dos melhores representantes que o nosso esporte poderia ter.
E infelizmente, se foi por conta de mais uma pessoa (Gabriel Bensdorf Aguiar de Oliveira, de 24 anos) que entra atrás de um volante sem condições para tal. Mais um caso de imprudência, que levou a perda de um atleta, de um pai, de um filho, de um irmão, de um amigo, de um exemplo.
Clarindo queria vencer a Copa do Mundo de Longas distâncias, como ele disse nessa entrevista que nos deu há poucas semanas. (Entrevista dele com 6m48s)
Esse tipo de treinamento fazia com que ele treinasse muito pelas estradas e infelizmente, as estradas assassinas de nosso país, fazem com que o fato de fazer esse tipo de treinamento seja algo perigoso e até mortal, como o caso do Claudio… Ou seja, o nosso país não dá as condições de segurança, para que um atleta corra atrás de seus sonhos com segurança e com a certeza de que voltará para casa, para a sua família.
Vivemos em uma guerra no trânsito, em um país onde a atual moda, são festas que começam a “bombar” as quatro horas da manhã e consequentemente colocam pessoas exaustas e bêbadas voltando para casa as 8 horas da manhã, no horário que as pessoas saem para treinar ou trabalhar (não estou dizendo que esse foi o caso do motorista que dormiu e atropelou o Clarindo, mas é um cenário que se repete).
Não existe uma regra severa que FERRE com a vida de quem mata no trânsito ao ponto que faça com que as pessoas pensem duas vezes antes de sair para dirigir em qualquer condição. Infelizmente, aquela triste frase está certa, “se quiser matar alguém, atropele, que não vai dar em nada”.
Perdemos Clarindo, e com a morte dele, perdemos um pouco da vontade de pedalar, da vontade de estimular entes queridos a pedalar. Ficamos com um pouco mais de medo de sair nas ruas e nos depararmos com a morte trazida por um irresponsável, que pagará um bom advogado e vai continuar sua vida como se nada tivesse acontecido.
Precisamos mudar o nosso país, precisamos de segurança. Esse é um direito nosso e não podemos nos contentar em ficar perdendo amigos.
Clarindo, espero que você esteja em um bom lugar, com estradas vazias, sem buracos, sem motoristas malucos e pedalando com os grandes ciclistas que já se foram. Nós continuamos por aqui… Desviando de todos os malucos e lembrando de você!
Muito obrigado por tudo que você fez pelo nosso esporte, saiba que você foi imortalizado pelos seus feitos, que estão registrados em vídeos e fotos pelos meios de comunicação, que sempre estarão aí, para inspirar e emocionar as pessoas.
E para os que ficam, cuidado! Nosso esporte é maravilhoso, mas nascemos no país que não nos dá estrutura para pratica-lo com segurança.